Hoje eu estou mesmo muito feliz. Feliz porque ouvi uma música daquelas que o ouvido, a alma, o espírito, a pele, as vísceras se contorcem... seja pela beleza, seja pela expressão artística, seja pelo transcendentalismo que habita em toda arte em estado puro, seja pelo soco no estômago que a arte é capaz de nos dar quando estamos a um passo de sentarmos em algum escritório com um pouco de alegria diante de um computador barato, lerdo e frigido sentindo um pouco de orgulho por ter “conseguido tudo na vida”,”mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado”!!!
Van Gogh deixava de comer para pintar. Seu Jorge cantava para poder comer.Lobão comia quando podia.Zé Ramalho rasgava o que vestia.
Kurt dormia numa camioneta enferrujada e suja... fedia a gasolina como um frentista assalariado.Talvez por isso tenha explodido uma geração que cheirava a Teen Spirit.
A arte, tão silenciosa, é capaz de mexer com a cabeça de todos os mortais. De uns mais, de outros menos, mas é certo que não há humanidade sem arte: são galerias, prédios, engenharia, humanismos, poesias, versos e prosas de desencontros artísticos, lágrimas de acordes, pianos sobre os ombros, caixas carregadas com dinamites, lembranças duplicantes de vozes nasais, porcos distorcidos em harmonias, carne moída entre cordas de violões quebrados. Arte refinada, de dedos polidos com bases de delicadeza. Há todo tipo de arte: a hipócrita, afinal, uma civilização hipócrita certamente engendraria um tipo de expressão hipócrita.
E a arte de verdade, essa que te pega pelo canto do ouvido e te chama de filho da puta quando você faz de conta que está surdo. Aquele tipo que te chama quando você parece estar pronto para sentar e assistir todo o Fausto Show bebendo uma cerveja adequadamente gelada olhando as crianças no quintal, enquanto sua diva arruma a árvore de natal.
Aquele tipo de arte que te arranca da mesmice. Aquele tipo de arte que diz, sim, que você já não é o mesmo na cama... que o seu sono não é tão tranqüilo... que as suas opiniões radicais já não são tão radicais... que a sua militância é inerte e deplorável, que a sua “esquerda” é um lobby conformista e rechonchudo...
A arte de verdade é nauseante. Incansável. Nômade.
Como fiquei feliz ouvindo essa música que em determinado momento ouvi com pouca atenção.Uma música fabulosa da Pública chamada Long Plays.Perfeita.
Soma-se a música o clipe com aquela galera de Porto, com as ruas de Porto, com atores de Porto...Tudo assim, tão perto...
Que a minha coragem de fazer arte foi reacesa. Veio como uma fênix incendiando o meu violão e o meu caderno com letras e versos, verbos de ação, atitude, desejo, verdade e alegria.
É o “vento certo”... [é Senhora dos Ventos...]
Eis o “clip”: http://www.youtube.com/watch?gl=BR&v=lsEEjyY6BAg