quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pública

Hoje eu estou mesmo muito feliz. Feliz porque ouvi uma música daquelas que o ouvido, a alma, o espírito, a pele, as vísceras se contorcem... seja pela beleza, seja pela expressão artística, seja pelo transcendentalismo que habita em toda arte em estado puro, seja pelo soco no estômago que a arte é capaz de nos dar quando estamos a um passo de sentarmos em algum escritório com um pouco de alegria diante de um computador barato, lerdo e frigido sentindo um pouco de orgulho por ter “conseguido tudo na vida”,”mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado”!!!

Van Gogh deixava de comer para pintar. Seu Jorge cantava para poder comer.Lobão comia quando podia.Zé Ramalho rasgava o que vestia.

Kurt dormia numa camioneta enferrujada e suja... fedia a gasolina como um frentista assalariado.Talvez por isso tenha explodido uma geração que cheirava a Teen Spirit.

A arte, tão silenciosa, é capaz de mexer com a cabeça de todos os mortais. De uns mais, de outros menos, mas é certo que não há humanidade sem arte: são galerias, prédios, engenharia, humanismos, poesias, versos e prosas de desencontros artísticos, lágrimas de acordes, pianos sobre os ombros, caixas carregadas com dinamites, lembranças duplicantes de vozes nasais, porcos distorcidos em harmonias, carne moída entre cordas de violões quebrados. Arte refinada, de dedos polidos com bases de delicadeza. Há todo tipo de arte: a hipócrita, afinal, uma civilização hipócrita certamente engendraria um tipo de expressão hipócrita.

E a arte de verdade, essa que te pega pelo canto do ouvido e te chama de filho da puta quando você faz de conta que está surdo. Aquele tipo que te chama quando você parece estar pronto para sentar e assistir todo o Fausto Show bebendo uma cerveja adequadamente gelada olhando as crianças no quintal, enquanto sua diva arruma a árvore de natal.

Aquele tipo de arte que te arranca da mesmice. Aquele tipo de arte que diz, sim, que você já não é o mesmo na cama... que o seu sono não é tão tranqüilo... que as suas opiniões radicais já não são tão radicais... que a sua militância é inerte e deplorável, que a sua “esquerda” é um lobby conformista e rechonchudo...

A arte de verdade é nauseante. Incansável. Nômade.

Como fiquei feliz ouvindo essa música que em determinado momento ouvi com pouca atenção.Uma música fabulosa da Pública chamada Long Plays.Perfeita.

Soma-se a música o clipe com aquela galera de Porto, com as ruas de Porto, com atores de Porto...Tudo assim, tão perto...

Que a minha coragem de fazer arte foi reacesa. Veio como uma fênix incendiando o meu violão e o meu caderno com letras e versos, verbos de ação, atitude, desejo, verdade e alegria.

É o “vento certo”... [é Senhora dos Ventos...]

Eis o “clip”: http://www.youtube.com/watch?gl=BR&v=lsEEjyY6BAg

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Genética e Comportamento

Neste semestre encaro um desafio particular: abandonar a minha visão filosófica sobre a genética e o comportamento humano e engolir (a seco, diga-se de passagem) essa história de influencia fundamental da genética no comportamento. Abandonar porque sempre me inquieta o silêncio do resto da turma quando a professora (gente boa, quase-institucionalizada, vassoura-nova e solicita) insiste (com a ementa debaixo dos braços) em fazer essa abordagem determinista da genética no comportamento e penso coisas tipo: todo mundo concorda com isso? Por que é que isso me inquieta tanto? Será culpa do Huxley, que me faz pensar num tipo de manipulação em série e em tantas outras besteiras análogas aos filmes de ficção cientifica tipo Matrix? Será mesmo que poderão, os falsos profetas, extinguir com a violência da face da terra (porque, de acordo com o determinismo genético, basta isolar alguns genes, ativar outros e Puf!!! o Golias vira David, e o século XXII será marcado pelo amor, pela fartura alimentar, pela paz e pela benevolência humana tão contraria aos nossos instintos facínoras defendidos pela psicanálise com unhas e dentes) Será mesmo que os genes carregam tanto poder? Será que a inclusão do fenótipo não é simplesmente uma incógnita despretensiosamente agrupada nesta equação para dar margem aos infinitos casos onde a ciência e a razão capengam? É realmente difícil ser um bom aluno e honrar as aspirações da minha amada mãe...

Tudo parece tão equivocado para mim. Por exemplo: se tal gene implica em tal comportamento em determinado individuo, deveria, a posteriori, implicar em tal comportamento, de modo linear, em todos os indivíduos, ou membros daquela espécie. Entretanto, quando argumento neste sentido, a crítica usa o subterfúgio do ambiente. Tal postura implica num paradoxo indissolúvel, pois, assim, é cientifico dizer que o gene X faz com que o mano da favela seja muito, mas muito violento; E, também será cientifico e irrefutável que o mesmo gene, habitante de um outro mano da favela(irmão daquele mano) seja extremamente dócil e altruísta.Crossing-over? Não...Fenótipo? Sim. Tudo lógico e coerente como os métodos empíricos aspiram, alias, determinam...

Um colega, com quem converso sobre temas diversos, disse que era até estranho que Eu esperasse e exigisse tanta inflexibilidade de lógica nesta analise, que deveria, como estudante com tendências à psicanálise, aceitar de bom grado essas mudanças,esses relativismos... que não há,aí, nenhum mal...E de, de fato, não haveria...se isso não significa-se colocar na mão das ciências( e de seus discípulos submissos) um trunfo para diagnósticos infundados, para analises equivocadas, para interpretações fajutas, para vigarice.

Há grande maioria dos meus questionamentos, a resposta é sempre a mesma: “os cientistas ainda estão investigando os genes específicos de tal comportamento”, “já há estudos nesta área que comprovam tal comportamento”, “tem muita coisa sendo divulgada agora que esclarece tais questões”. São respostas evasivas. Será que isso compete ao que se pretende científico?

Deixo claro que não questiono a competência do mestre, afinal, ele cumpre com um “programa” especifico. Questiono-me sobre esta necessidade da universidade de dispor de coisas tão nebulosas no currículo, sobre esta pressa em associar coisas ainda dispares. Será isso resultante de pressão política que visa prêmios e estrelas nas avaliações institucionais?

Tudo isso faz com que eu esqueça tudo que é deveras importante quanto às aulas de genética.

Enquanto isso, o resto do mundo continua mudo...

Consentindo com a cabeça a saberes esfarrapados e aprendendo “gatos-por-lebres”...

Depois acontecem coisas tipo: um amigo rompeu o tendão, foi ao medico, este “olhou” e disse que era só um “mal jeito” e tacou lá uns remédios para “dô”...dias depois, ele tem de ir ao hospital com urgência porque o tendão estava rompido e a sua perna da largura do tórax... Outro tomou antigripais durante um ano até outro medico curioso descobrir que era alergia... Outro que foi operar o joelho esquerdo e operaram o direito...exemplos ad infinitum!!!

Sabe lá que tipos de intervenção poderão fazer os Psi tão acostumados a essas incoerências e associações mal fundamentadas.

Salve Deus a minha loucura dessa gente.

È por isso que vou até um geneticista comprar um mapa, ainda que falsificado, dos meus genes, afirmando que todos os meus comportamentos são, e sempre serão, aqui ou em Marte, visivelmente lúcidos... ainda que sejam “vistos no escuro”.



PS- Para evitar confusões interpretativas, afirmo: a genética é uma ciência absoluta.Mas o comportamento não é.Logo, quando se associa algo inquestionável com o Caos, só podemos ter o Caos, porque o Caos é o mais forte do irmãos...
PS2- Pensando bem, benditas sejam as confusões!