terça-feira, 19 de abril de 2011

Sem críticas a burrice, ela não existe mais.

Cheguei a uma conclusão fenomenal, que, talvez, seja um alento: não existe mais burrice. Existe, sim, uma caixa louca de sonhos: O MUNDO.
Poderia ir mais longe, afirmando, segundo a minha filosofia de boteco nublada pelo antialérgico, que, desse modo, não existe sequer inteligência. Mas eu não afirmaria isso, pois essa ultima tiraria toda a nobreza e potência da primeira.
A lógica é simples: não há burrice, todos são inteligentes; uma maravilha. Perfeição da natureza, brilhantismo de Deus, azar do diabo.
Quanta discussão seria abrandada se partíssemos daí.
Doutores, mestres, graduados teriam que vender o seu peixe bem longe desse planeta e o bom e velho Peão Xadrez seria o rei de toda essa maquinaria.
Aquela pecha dos médicos, aquele olhar metido dos mestres, aquela pronuncia afetada dos advogados, a complexidade dos físicos, tudo morto. Estanque. Assunto de boteco, perda de tempo, falta do que fazer. Bobeira.
Aquele compendio de equações de física quântica ia ser devorado pelas traças com apetite.
Platão ia descansar em paz. Não ia reaparecer tão cedo. Talvez nos devaneios loucos de uma putinha, essas de bairro, que ficam em casa sonhando com “homens de posse ou pose”.
Heráclito e Parmênides seriam revistos sob a ótica narcisista de alguma loba inconformada com seus glúteos flácidos.
O Einstein seria inspirador de cabeleireiros.
Aquele chefe que carrega em si as insígnias do “expert sem inteligência” ia ficar muito feliz. Felicíssimo.
Todo o saber mais profundo carregaria em si a maior das banalidades.
Essas frases que eu ouço em todo lugar, do “Oiapoque a Uni”: isso não é interessante. Isso não tem relevância. Conversa pra boi dormir. Discurso vazio. Lábia. Lorota. Falácia. Auto-afirmação, tudo isso poderia ser colocado nos dicionários. Seriam as mais nobres verdades.
Se um dia estivessem Lacan e Freud a discutir psicanálise num banco de praça qualquer, isso seria um enfado até para os pombos.
A ausência de burrice ia nos deixar tão à vontade para criticar qualquer esforço “intelectual”, afinal, a negativa também seria deveras inteligente, ora bolas.
Se Deleuze falasse de simulacro, o máximo que conseguiria seria um contrato com a Microsoft e, se por vaidade, decidisse falar em “devir”, bem, poderia conseguir uma “boquinha” na globo como substituto do Mister M ou da mãe Dina.
Friedrich Nietzsche seria usado pelas mães como trava-língua, brincadeira para crianças em período de aquisição da linguagem.
O mundo é uma caixa louca de sonhos, solamente.
Provas? Para que? Quem haveria de reprovar?
Maldito seria o egoísta metido a besta que a formulou. Zombariam dele na praça. Crianças diriam: mãe, aquele não é o semideus que acha que precisamos de provas? E sua mãe diria: sim, ele mesmo. Coitado dele, né, mãe, deve estar louco...megalomania, né, mãe?
O fato de Joana amar e não ser amada não ia ser mais burrice, ia ser inteligência. Ia ser humanismo. Humanismo seria inteligência. Outra formulação que só é possível com a eliminação da burrice, infelizmente.
A burrice é o bordão da pós-modernidade para categorizar quase tudo que é humano. Afinal, ser humano não incide em ser imparcial, e tudo que é parcial não é cientifico, e tudo que não é cientifico é alternativo, e o que é alternativo é lixo, ou não?
Relações de poder seriam relações de igualdade.
Preto, pobre, branco, pobre, rico pobre, todos absolutamente inteligentes.
Os cargos de comando iam ser ocupados por uma virtude vitalícia, quase monárquica: o nepotismo. Abaixo do presidente os filhos dos pobres e sofredores. Simples.
Sem esse discurso de despreparo, de falta de títulos, de educação para lideranças, isto é, os reis seriam reis e o resto seria o resto, sem dor.
Aqueles excêntricos trancados dentro de laboratórios atrás de vacinas seriam só isso:excêntricos, afinal, a vacina seria descoberta por qualquer distribuidor de balas em semáforos.Bala? Bala? Bala? Bah! Tive uma grande idéia! E puff! Adios câncer.
Todo texto inextrincável seria “leitura-de-trono”. Mais proveitoso seria desenhar.
Com a extinção da burrice, a frase: “vamos direto ao ponto” ia ser fundamental.
Coitado daquele que ousasse problematizar. Para que? Quem não entendeu? Quem precisava de mais explicações? Quem?
Quem perguntasse seria executado em praça pública...
Pobre daquele que tentasse lançar mão de explicações mais formuladas: um “aparecido”.
Universidades seriam uma convenção social: lugar de lixar as unhas, arrumar maridos-filhos-de-reis ou ases, vitrine para aquele par de sapatos novos, dotes físicos, parafernálias eletrônicas, encontros carnais, feira de automóveis, teatro blasé, pólo gastronômico e, para os mais a esquerda, laboratório de vaidades.
No lugar das enormes bibliotecas erigiriam um templo para as fofocas via MSN.
O mais nobre dos livros seria o livro dos risos.
Ademais, diriam, parafraseando Pessoa: temos em nós todo conhecimento do mundo.

Estranho...

5 comentários:

Elídia :) disse...

Estranho nada, fantástisco! a segunda invenção mais importante depois da roda: claro, sem burice, td resto seria genial, e diante da "genialidade", ninguém se ofenderia em ser criticado,hahaha. E na ABL,figurando Bruna Surfistinha, pois lá é um lugar onde ABUNDA a inteligência, kkkk

Josias Fontoura - Chocolate com Cultura disse...

grande sacada! como sempre, um sonho.... tu cometeu um erro nesse projeto de desburrização, pra que citar Pessoa num texto que foi fantástico até o último parágrafo?
Estranho sim, estranho que tu mesmo não aderiu ao projeto, teve que dar aquele arzinho de estudioso que conhece os grandes escritores!
Bruna Surfistinha, Elídia, grande exemplo de empreendedorismo! Genial!

Edson Leal disse...

Elidia,
Vamos contaminar a academia com o veneno do escorpião? Uma contaminação acima do bem e do mal.
abraço.

Edson Leal disse...

Josias,
O texto está rechedo de grandes escritores... mas entendo o que quer dizer com a crítica a parafrase...
No entanto, não é um projeto de "desburrização", é, sim, um olhar filosófico sobre o pensar, que age como se a burrice já estivesse extinta;isso é que é estranho...
Quanto a Surfistinha, concordo com você, ela é uma puta empreendedora!!!
abração.

Brenda Guerra disse...

"Universidades seriam uma convenção social: lugar de lixar as unhas, arrumar maridos-filhos-de-reis ou ases, vitrine para aquele par de sapatos novos, dotes físicos, parafernálias eletrônicas, encontros carnais, feira de automóveis, teatro blasé, pólo gastronômico e, para os mais a esquerda, laboratório de vaidades."

Ué, não são? Putzzz fui enganada esse tempo todo!

Ideia genial meu querido!!