quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Uma autoanálise...

Dois lados de uma mesmíssima moeda


Numa cidadezinha ao norte da Pensilvânia...
Eram duas pessoas.
E era uma só.
Acordava cedo com sono, dormia tarde, universitário, subproletario, micro empreendedor, equilibrista orçamentário.
Solicito
Atento
Arguto
Rebento que arrebenta.


Acordava tarde, ou não acordava, sua vida era um sonho intangível, de um realismo mágico a La Gabo nos seus dias altos de Cem Anos de Solidão. “bicho solto, cão sem dono, menino perdido” entre estrelas peitudas habitantes das águas de Netuno: O cabra era ligeiro, gatilho pronto, poeta de letras miúdas
Amável
Amante
Deliciosamente indolente.
Deus de seu tempo.


Negociava empréstimo sobre empréstimo, sofria. Alíquotas, cotações, climatempos...
Naus de idéias capitais...
Era cético de saldo negativo
Nietzsche de aluguel.
Vivia perambulando entre um desejo sádico de dar um golpe de estado no patrão
De libertar-se enquanto escravo
E de escravizar enquanto Tirano
Era vil, covil, insanamente racional
RezaDor.


Sorria como um Sol.Iluminava.Espraiava sua indolência para alem da impressão grosseira da preguiça.
Servo de si, tinha o gozo por limite.
Mas sempre gozava depois
Bebia um vinho acolhedor
“Acolhegria”
Com os braços estendidos qualquer amigo estranho que passasse
Passava...
Como o passarinho.

Discutia ferrenho ao telefone:
-Demônio de empregada
Suas roupas estavam sempre velhas, esfarrapadas, sapatos novos, cara nova
Nova privada.
No almoço A LA Minuta padrão
De cabeceira
Os sonhos deixava na rua
Para não atrapalhar a razão
Nem o apetite
Do estúpido patrão


Viajava mil vezes de dentro de sua rede
Estendida
Como nuvem num cenário pitoresco
Hercúleo
Belo
Com o martelo da paciência, talhava
Sua Majestade
Sua fé
Sua liberdade
Brilhante


Um dia, num retorno para casa no transito cruzado,
Engarrafado
Lento
Cruzaram-se.
Irremediáveis
Os dois formaram um
Os dois formaram uma moeda
De “grana”
De “fonte de desejos”
De agonia.


Era um embolamento, embolia
Patrão filho-da-puta, corno de cá,
Dinâmico e objetivo, de lá
Na rua, os pássaros
Na rede, o tempo
No escritório, a guerra


Na sinaleira, aquele mendigo fétido e sorridente estranhara os “cinqüenta paus”,
Um se retorcia nos fundilhos batidos de uma calça cortada por estilista de Nome,
Outro se ria daquela fome
Era um enrosco
Lindo e tosco


Enquanto um “retroaviso” corria na mente focada do destemido
O outro corria com as crianças nas ruas
O inferno dos relatórios atrasados
Tanta guerra por trocados
“ao vencedor as batatas”
Bem no peito, arritmia
Bem no coração um amor
Pra Maria


Piranha
Puta
Podre
Linda
Leve
Nobre


Nem penso em tocar naquela sujeira
Quero me lambuzar, fazer besteira
Era sempre um embolamento
Uma discussão
Ou era o Chico, ou o Chicão...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Impressões a cerca de um tal “Edsozinho”

Tem dias que esse rato não consegue entender direito porque o seu paraíso não é bem um bueiro fétido próximo aos centros urbanos.


Tem dias que esse rato é “Um rato e no más, e é feliz”.


Tem dias que esse rato é absolutamente inovador na arte de fazer besteira, acreditando que aquele sexo drogas e “rock “n” Raul” da adolescência efervescente cai bem aos trinta...


Tem dias que a solidão é um fardo


E que uma frase é um dardo direto no peito


Flama na consciência


Ciência sem sono.


Tem dias que esse rato molhado escorrega mesmo entre as mãos do abandono


Não se sabe por que, mas esse rato acredita que você também pode sentir tudo isso sem pintar uma lagrimazinha com lápis de maquiagem no rosto...


Tem dias que o Brown acerta em cheio!


E o Chico é só mais uma aguinha de março...


Tem dias que ser rato é um ranço


Tem aqueles dias em que ele bate no peito, canta o hino nacional em voz alta, é tropical, tropicalista, tropicaliente...


Um machadiano convicto sem lenço, documento ou fogão a lenha


Que tem certeza que não é erudito


Que tem certeza que odeia gritos


Que tem certeza que é só uma questão de vaidade


De maldade


De desespero


De perdição


De falta de tempero


Todos os “bolos” do mundo ainda não cansaram esse rato: ele bota fé que a coisa toda vai rodar um dia: Máquina mundi, modus operandi, carpe diem, abraços de verdade na terra dos desbraçados.


Bueiros de rosas purpúreas, frondosas


Casas com cheiro de madeira seca...


Sol a pino, pele trigueira, faceira, paradoxal...


Verdades atestadas em livros: gibis de vidas...


Roídas.


Becos sem saída com alamedas direto para as saídas...


De emergência.


“Knocking on heavens door” a la Bob Dylan.


Um dia esse rato ainda vai encontrar a Lama, linda, paciente, sexy,perigosa


Um dia esse rato será “trans”: transcendental.


Desde a ponta do dardo até a ponta do peito


Desde a procissão até o leito


Desde o medo até o pleito


Desde o sono até o cesto


Da bossa ao samba


Da preservação das tripas, dos pandas


Um dia esse rato será


Solamente um KKKKK KKKKK KKKKK


Pulsante.


Lindo.  Humano.  Singular. Irretocável...


Como você.



quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pública

Hoje eu estou mesmo muito feliz. Feliz porque ouvi uma música daquelas que o ouvido, a alma, o espírito, a pele, as vísceras se contorcem... seja pela beleza, seja pela expressão artística, seja pelo transcendentalismo que habita em toda arte em estado puro, seja pelo soco no estômago que a arte é capaz de nos dar quando estamos a um passo de sentarmos em algum escritório com um pouco de alegria diante de um computador barato, lerdo e frigido sentindo um pouco de orgulho por ter “conseguido tudo na vida”,”mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado”!!!

Van Gogh deixava de comer para pintar. Seu Jorge cantava para poder comer.Lobão comia quando podia.Zé Ramalho rasgava o que vestia.

Kurt dormia numa camioneta enferrujada e suja... fedia a gasolina como um frentista assalariado.Talvez por isso tenha explodido uma geração que cheirava a Teen Spirit.

A arte, tão silenciosa, é capaz de mexer com a cabeça de todos os mortais. De uns mais, de outros menos, mas é certo que não há humanidade sem arte: são galerias, prédios, engenharia, humanismos, poesias, versos e prosas de desencontros artísticos, lágrimas de acordes, pianos sobre os ombros, caixas carregadas com dinamites, lembranças duplicantes de vozes nasais, porcos distorcidos em harmonias, carne moída entre cordas de violões quebrados. Arte refinada, de dedos polidos com bases de delicadeza. Há todo tipo de arte: a hipócrita, afinal, uma civilização hipócrita certamente engendraria um tipo de expressão hipócrita.

E a arte de verdade, essa que te pega pelo canto do ouvido e te chama de filho da puta quando você faz de conta que está surdo. Aquele tipo que te chama quando você parece estar pronto para sentar e assistir todo o Fausto Show bebendo uma cerveja adequadamente gelada olhando as crianças no quintal, enquanto sua diva arruma a árvore de natal.

Aquele tipo de arte que te arranca da mesmice. Aquele tipo de arte que diz, sim, que você já não é o mesmo na cama... que o seu sono não é tão tranqüilo... que as suas opiniões radicais já não são tão radicais... que a sua militância é inerte e deplorável, que a sua “esquerda” é um lobby conformista e rechonchudo...

A arte de verdade é nauseante. Incansável. Nômade.

Como fiquei feliz ouvindo essa música que em determinado momento ouvi com pouca atenção.Uma música fabulosa da Pública chamada Long Plays.Perfeita.

Soma-se a música o clipe com aquela galera de Porto, com as ruas de Porto, com atores de Porto...Tudo assim, tão perto...

Que a minha coragem de fazer arte foi reacesa. Veio como uma fênix incendiando o meu violão e o meu caderno com letras e versos, verbos de ação, atitude, desejo, verdade e alegria.

É o “vento certo”... [é Senhora dos Ventos...]

Eis o “clip”: http://www.youtube.com/watch?gl=BR&v=lsEEjyY6BAg

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Genética e Comportamento

Neste semestre encaro um desafio particular: abandonar a minha visão filosófica sobre a genética e o comportamento humano e engolir (a seco, diga-se de passagem) essa história de influencia fundamental da genética no comportamento. Abandonar porque sempre me inquieta o silêncio do resto da turma quando a professora (gente boa, quase-institucionalizada, vassoura-nova e solicita) insiste (com a ementa debaixo dos braços) em fazer essa abordagem determinista da genética no comportamento e penso coisas tipo: todo mundo concorda com isso? Por que é que isso me inquieta tanto? Será culpa do Huxley, que me faz pensar num tipo de manipulação em série e em tantas outras besteiras análogas aos filmes de ficção cientifica tipo Matrix? Será mesmo que poderão, os falsos profetas, extinguir com a violência da face da terra (porque, de acordo com o determinismo genético, basta isolar alguns genes, ativar outros e Puf!!! o Golias vira David, e o século XXII será marcado pelo amor, pela fartura alimentar, pela paz e pela benevolência humana tão contraria aos nossos instintos facínoras defendidos pela psicanálise com unhas e dentes) Será mesmo que os genes carregam tanto poder? Será que a inclusão do fenótipo não é simplesmente uma incógnita despretensiosamente agrupada nesta equação para dar margem aos infinitos casos onde a ciência e a razão capengam? É realmente difícil ser um bom aluno e honrar as aspirações da minha amada mãe...

Tudo parece tão equivocado para mim. Por exemplo: se tal gene implica em tal comportamento em determinado individuo, deveria, a posteriori, implicar em tal comportamento, de modo linear, em todos os indivíduos, ou membros daquela espécie. Entretanto, quando argumento neste sentido, a crítica usa o subterfúgio do ambiente. Tal postura implica num paradoxo indissolúvel, pois, assim, é cientifico dizer que o gene X faz com que o mano da favela seja muito, mas muito violento; E, também será cientifico e irrefutável que o mesmo gene, habitante de um outro mano da favela(irmão daquele mano) seja extremamente dócil e altruísta.Crossing-over? Não...Fenótipo? Sim. Tudo lógico e coerente como os métodos empíricos aspiram, alias, determinam...

Um colega, com quem converso sobre temas diversos, disse que era até estranho que Eu esperasse e exigisse tanta inflexibilidade de lógica nesta analise, que deveria, como estudante com tendências à psicanálise, aceitar de bom grado essas mudanças,esses relativismos... que não há,aí, nenhum mal...E de, de fato, não haveria...se isso não significa-se colocar na mão das ciências( e de seus discípulos submissos) um trunfo para diagnósticos infundados, para analises equivocadas, para interpretações fajutas, para vigarice.

Há grande maioria dos meus questionamentos, a resposta é sempre a mesma: “os cientistas ainda estão investigando os genes específicos de tal comportamento”, “já há estudos nesta área que comprovam tal comportamento”, “tem muita coisa sendo divulgada agora que esclarece tais questões”. São respostas evasivas. Será que isso compete ao que se pretende científico?

Deixo claro que não questiono a competência do mestre, afinal, ele cumpre com um “programa” especifico. Questiono-me sobre esta necessidade da universidade de dispor de coisas tão nebulosas no currículo, sobre esta pressa em associar coisas ainda dispares. Será isso resultante de pressão política que visa prêmios e estrelas nas avaliações institucionais?

Tudo isso faz com que eu esqueça tudo que é deveras importante quanto às aulas de genética.

Enquanto isso, o resto do mundo continua mudo...

Consentindo com a cabeça a saberes esfarrapados e aprendendo “gatos-por-lebres”...

Depois acontecem coisas tipo: um amigo rompeu o tendão, foi ao medico, este “olhou” e disse que era só um “mal jeito” e tacou lá uns remédios para “dô”...dias depois, ele tem de ir ao hospital com urgência porque o tendão estava rompido e a sua perna da largura do tórax... Outro tomou antigripais durante um ano até outro medico curioso descobrir que era alergia... Outro que foi operar o joelho esquerdo e operaram o direito...exemplos ad infinitum!!!

Sabe lá que tipos de intervenção poderão fazer os Psi tão acostumados a essas incoerências e associações mal fundamentadas.

Salve Deus a minha loucura dessa gente.

È por isso que vou até um geneticista comprar um mapa, ainda que falsificado, dos meus genes, afirmando que todos os meus comportamentos são, e sempre serão, aqui ou em Marte, visivelmente lúcidos... ainda que sejam “vistos no escuro”.



PS- Para evitar confusões interpretativas, afirmo: a genética é uma ciência absoluta.Mas o comportamento não é.Logo, quando se associa algo inquestionável com o Caos, só podemos ter o Caos, porque o Caos é o mais forte do irmãos...
PS2- Pensando bem, benditas sejam as confusões!


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Uma Luta Particular

O pior de tudo é quando se tem vontade de escrever sobre tudo e os assuntos vão se misturando como as pessoas numa estação de trem e tudo ganha um contorno tão disforme que não pode ser descrito nem apresentado de forma concisa, coerente. Nem pede pontos ou vírgulas ou formulas ou números ou contas, só quer aparecer como uma epifania no dia a dia cego da correria doida da humanidade, uma veleidade, mesmo textual, de imagética confusa, sinistra, esguia, escorregadia, que não tem platôs, nem plataformas, nem nós, é fluida como um rio de gelo pintado em preto e branco. Parada um, a ciência, as justificativas, as causas e efeitos e seus defeitos, a despretensão, igualmente sinistra e ministra de um biótipo irresponsável e acrítico, ou acrópole, ou anacrônico, antagônico. Ou anarquista e reacionário. Parada dois, passo direto. Parada três, sem trens.


Todos os dias alguém repete por ai: e-pis-te-mo-lo-gi-a, de episteme, essência, e aquela camisa marcada pelo pó de trabalhador braçal, operário de genética, de arquetipa, de tramóia, de inocência, com seu suor de liberdade no jantar a sós com a família na frente da T.V. me faz pensar nisso, na palavra, no conceito, no desconceito.

Parada quatro: têm maluco descendo de tudo que pode ter um meio e um fim, querendo destruir a marra as fronteiras, lê as letras daquele pó de obrão com a mesma lente que encara as Pink leters das menininhas da facu. Tudo normal, tudo realidade. Protágoras e a maldita relatividade. Técnico de biopetróleo cozinhando em fogão a lenha.

Será que eu estou demasiadamente preocupado com a despreocupação dos outros? Ou com a preocupação? Ou com a ocupação? Macacos pulando de galhos cada vez mais altos com suas asas de pavão... Eis a visão do inferno, eu sou o outro, o outro sou eu, Dawkins, Deus, gigantes, coca-colas, judeus, trens, pedras, farpas, Sakineh, violões de aço, de sete cordas, unhas grandes, jaquetas jeans, camisas pólo, camisetas, colares, cabelos coloridos, dentes, sorrisos, fronteiras, interiores, poemas, papeis, escores, preconceitos, pilares, paradoxos,maratonas,crucifixos,anarquia,loucura,esquizofrenia,capitalismo,cartografias,paralaxes, para brisas, mãos limpas,amontoados de coisas que perturbam a razão de qualquer irracionalista.

A anarquia itinerante anda de carro privado com o dinheiro roubado da mãe, que desvia da pequena e pseudo-filantropica instituição de fome e prostituição infantil.

Quero uma voz mais clara. O galã quer uma estética para sua música comercial,anatômica.

O mundo é feliz dançando com o diabo.

Parece que alguém tem de se certificar e assegurar que a lona do circo não irá cair.

Só assim eu garanto a minha vaga de palhaço nômade que se “desterritorializando, territorializa-se”...
                                   
                                                               

                                   



















sábado, 7 de agosto de 2010

A divina sujeira de Gullar.

Hoje li uma entrevista do Ferreira Gullar concedida ao jornal Estadão, em que o poeta comentava o FLIP(festa de literatura em Paraty) e o lançamento de seu novo livro: “Em Alguma parte Alguma”. Fico pasmo toda vez que leio algo do Gullar, que tem oitenta anos, diz-se caboclo ligeiro, criativo, falante e desafiador, portador de um senso de humor único.


Meu interesse por ele nasceu a partir da leitura do livro do Caetano (Verdade Tropical) donde ele tece uma serie de comentários sobre os poetas concretistas, dentre eles Pignari, os irmãos Campos e o próprio Gullar.

Lembrei de como fiquei perplexo ao ler “Poema Sujo”. Aquele poema era fabuloso, aquela rememoração da infância em cidade do interior, aquela sexualidade tipicamente brasileira, aqueles versos em alemão em plena época de ditadura, aquele adjetivo: sujo.

Não vou tão longe quanto Vinicius para dizer que é o maior poema já publicado em língua portuguesa, talvez ate concorde, se considerar a questão temporal, sincronicidade do poema, da vida, do desfecho, do medo, da experiência de poeta e poema fundidos em um só momento histórico.

Uma das vantagens dos poemas concretos ( e pode ate ser um erro dizê-lo) é que o fato de terem grande afinidade com o concreto poupa o leitor,a priori, de grandes abstrações.Logo, sem grandes divagações, podia imaginar a mobília, o “cheiro de bosta”, os nazistas gritando, nos corredores de auschwitz, aquelas frases endurecidas pela ausência de vogais,podia sentir o medo nas entrelinhas, podia captar o grito de socorro de um individuo isolado das suas raízes e posto numa situação de morte iminente,enfim,podia me sujar com ele.

Na entrevista, li que o Poema Sujo é sujo porque é visceral, vem das vísceras.

Sujei-me novamente.

Porque isso me lembra morangos M-o-f-a-d-o-s! do Caio Fernando Abreu.

Lembra-me, também, outro poema clássico de Olavo Bilac, que “fala” sobre talhar o mármore com um martelo, e de lá, do íntimo, das “vísceras” das pedras, extrair o poema;

Também não ficou de fora da minha “emergência de memórias” o boêmio poeta que dizia que “o cachorro era o uísque engarrafado”, ou seja, amigo que acompanha, que bebe ou que se torna a própria bebida.

Quanta nodoa o Gullar cravou no meu espírito com um poema; doces lembranças.

Eis o milagre da arte, esta capacidade de mergulhar o individuo tão docilmente entregue ao seu “destino” estruturalmente pachorrento (afinal, desde Édipo, parecia uma tolice lutar contra a sua inexorabilidade) na mais angustiosa vertigem, no fundo do posso, no simulacro de si, na verdade escondida na terceira margem do rio.

É a arte colocando, novamente, um nó na garganta dos durões.

É a arte de mãos estendidas, desde as vanguardas, para um moço do interior fortemente ligado a natureza humana.

E hoje, passado algum tempo desde que me encontrei com Gullar, eu ainda posso descobrir coisas novas a partir do poema, como a psicanálise contida na frase dita por mim à exaustão: Eu sou do interior.

É o poema sujo me sujando.

É a víscera se externando nas minhas frases.

É a vida mais bela com a beleza que a arte coloca,evidencia,ilumina, nela.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Um poema para os amigos[as] poetas!!!

Ao sabor do sem saber eu levava
o vento na cara
Um tapa
Frio
Na capa.


Ao sabor do sem saber eu morria
De frio
Na cama
Vazia.


Ao sabor do sem saber eu vivia
Feliz
Cusco rodeando cerca
Vermelha a ponta do nariz
Com voltas, irmão de um chafariz
Uivando
Para a lua cheia.


Ao sabor do sem saber
Sereia
Seria
Você.

sábado, 31 de julho de 2010

Oráculos do Cotidiano

Já faz algum tempo que eu venho observando um comportamento peculiar de quase todas as pessoas para com os estudantes de psicologia; um comportamento que se revela, a um só tempo, (tragi)cômico e intrigante. Falo do tom de confissão com que os amigos fazem toda sorte de perguntas a respeito de uma serie de comportamentos que eles observam, a principio, nos amigos, parentes, vizinhos, estranhos, etc., mas para as quais não encontram respostas racionais.

O que é (tragi)cômico, nesse tipo de postura, é a necessidade explicita da pessoa de uma resposta imediata para um problema ou situação que necessitaria de uma serie de analises e diferentes abordagens para ser solucionada e/ou esclarecida. Por exemplo, quando estou com um amigo[a] e encontramos um amigo dele[a] que eu desconheço e, por vias do acaso, ele[a] acaba mencionando que sou estudante de psicologia, o sujeito, que até então era um estranho, começa, gradualmente, a fazer uma serie de questionamentos sobre determinados comportamentos ou conceitos específicos da psicologia para as quais busca uma resposta mágica,pragmática.

Conceitualmente, eu não vejo ai nenhum problema, pois os conceitos fundamentais da ciência psicológica apresentam certa unidade, de modo que as diferenças pontuais entre alguns autores não modificam a raiz do conceito, como se percebe,por exemplo, em Winnicott, Melanie Klein ou Freud com relação à importância da mãe para o desenvolvimento sadio (em sentido amplo) da criança. Entretanto, quando o individuo exige (de modo tácito, obviamente), uma explicação para o homossexualismo do vizinho, para a esquizofrenia do tio, para a impotência do irmão, para o consumismo da irmã, para a agressividade do chefe, para a melancolia do amigo, eu fico perplexo.
Ressalto que não vejo tais perguntas como inoportunas, ou chatas, ou inconvenientes, tampouco quem as profere. O que me deixa perplexo é a latência do racionalismo e pragmatismo na nossa cultura. É nesse momento que fica evidente a necessidade da sociedade moderna (ou pós-moderna, como muitos adoram dizer, e que de certo modo acabou virando clichê, mas que eu desacredito, e para isso faço minhas as palavras de A.Cícero em seu livro O mundo desde o Fim) de obter respostas imediatas, de desarticulação do subjetivismo, de “ir direto ao ponto”.

Certa vez, em um seminário na universidade, ouvi dizerem que a nossa educação não foi desenvolvida para “produzir (ironia) pensadores” e que a raiz desta orientação cartesiana estaria voltada para o tecnicismo e, posteriormente, para a produção (aqui em sentido estrito).Como os meios de produção nunca exigem mais do que uma vista curta, esse hábito acabou por encurtar também a capacidade da grande maioria dos indivíduos de pensar com lucidez que lhe garanta algum discernimento,de modo que suas conjecturas são superficiais.) Lembro de ter comentado com um colega que aquilo era a explicação mais acertada para a ojeriza que a juventude (de modo geral) tem para com a filosofia, poesia, literatura, etc. e, em contraponto, por todo “amor” que devotam a tudo que é técnico, aparentemente científico, comprovado por uma percepção epistemológica inabalável, ou, trocando por miúdos, que seja Útil.Entretanto, esses inquisidores de toda a arte e filosofia nunca pararam pensar que elas são, na verdade, potencializadoras da capacidade analítica e de tudo que há de mais louvável na essência humana.

Estas perguntas, tão despretensiosamente pronunciadas, acabam fazendo com que eu me revire com tantas outras questões essenciais. Fico pensando, por exemplo, que este paradigma medicamentoso é só uma espécie de placebo para uma realidade que exige velocidade e não compreensão; e que, novamente, tenho que encarar a dialética do desejo, ou seja, é assim porque foi imputado no paciente, ou é porque é uma exigência do desejante, que nesse caso, deixaria de ser paciente para se tornar exigente?

Confesso que sempre fico impressionado com a negação da importância do simbólico na nossa cultura. Esta vontade de equacionar os dilemas humanos (demasiado humanos), para que, a posteriori, obtenham-se respostas imediatas a cerca de seus problemas com cálculos simplórios é, em si, a concretização de uma patologia.

Este objetivismo já impossibilitou a prática psicanalítica na rede pública de saúde, com a alegação de que seriam necessárias muitas (ou infinitas) consultas para se atingir um resultado satisfatório. Então, partiu-se para a frieza da prancheta e das cartilhas de medicamentos, enfim, para os médicos-piloto (analogia com os professores-piloto, ou seja, professores que não possuem plano de aula e que utilizam somente o livro didático.)

São constatações intrigantes, tema para um livro.

Todavia, para todos aqueles que pensam que todo esse discurso é uma bobagem, resta crer que há, nos estudantes de psicologia (que flertam com a mitologia), uma grande herança “genética” dos oráculos.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Um (quase) Analfabeto Político

Brecht tem um lindo poema em prosa que descreve o analfabeto político, do qual ressalto o orgulho que ele imputa a esse tipo de analfabeto, que bate no peito e diz que: Não participo dessa farsa, não perco meu tempo com essa corja, não assisto programas eleitorais, não me interesso pelos programas dos candidatos, em suma, não voto, aliás, voto nulo.

É a partir dessa leitura que eu afirmo que fui quase analfabeto político; e não me orgulho disso.

Hoje, observo a política com um pouco mais de atenção; (talvez somente com a atenção obtida através de um M.M.C. de atenção necessário para abandonar a posição de “A.P.”) e um facto tem me chamado a atenção: A preocupação dos nossos intelectuais conservadores, e mesmo os de esquerda!, para esse “Lulismo”, que pode durar quase 25 anos,posto que o governo da Miss Dilma deve ser uma extensão do governo do nosso admirável populista.

Todo este tempo de mandato, aliado a uma popularidade, tida até como excessiva, podem configurar o ambiente ideal para a instauração de uma ditadura, como a de Hitler, de Mao, de Stalin, de Fidel ou como a que Chaves vem engendrando.

Pois, ainda que de uma forma um pouco disforme, foi assim que esses sanguinários chegaram ao poder absoluto de uma ditadura: altas doses de populismo, indução do povo, reforma das leis, diminuição de dois dos três poderes fundamentais e, por fim, alargamento do tempo de mandato.

Parece que o ilustre metalúrgico já dispõe de um arsenal e tanto...

E o fato dele (o Lula) ter se negado a aderir à sugestão de um covil (de que propusesse uma reforma que aprovasse o terceiro mandato) não acalentou o medo dos analistas políticos, pois a Dilma seria, em si mesma, a efetuação do terceiro mandato, que iria desembocar, inevitavelmente, na doçura e continuum de petistas, ameaçando, incisivamente, a sagrada democracia.

Lendo uma entrevista que o Calligaris concedeu ao programa Roda Viva, eu encontrei uma pérola, aliás, duas: na primeira, ele afirma que “a única diferença entre ele e os rebeldes é que ele não joga tijolos”, e a segunda, e a que mais me interessa, é a sua postura acertada com relação a Democracia. Segundo ele, democracia deveria ser um tipo de governo onde a vontade e decisão de todos prevaleceria, ou seja, as minhas decisões deveriam ser ouvidas, e, se fossem participes da opinião geral, ela deveria ser executada de imediato, e, se pensarmos sob esse enfoque com relação à segurança e saúde publica, verificamos que ele tem razão ao afirmar que não vivemos numa democracia legitima, ou numa democracia profunda.

Deste modo, o meu medo se restringe unicamente a perda total da liberdade, dado que a demo-cracia da qual sou contemporâneo nada tem a ver com o ideal utópico de democracia proposto por Calligaris (junto a todos os rebeldes do mundo, com ou sem tijolos). Logo, penso que não seria um equivoco trocar a minha posição de “quase ignorante político” por “militante político aposentado, ou deprimido, ou qualquer coisa que valha...”, posto que também não jogo tijolos, nem colo cartazes pela cidade, nem quebro placas, nem incendeio veículos públicos, nem encho as rodovias de gravetos, coisa que na adolescência (época predileta de análise do psicanalista) eu até cogitava,todavia, devido ao cogito racionalista...

Com base na constatação de que esse “sonho” de democracia já faleceu, só me resta abraçar o populismo, o que pode parecer uma contradição dada a analise de risco que aqui descrevo, no entanto, só o faço porque a nossa esquerda é mole demais para engendrar uma ditadura, seja esquerda, neo-esquerda(ao que faço trocadilho com nuloesquerda), ela está mais para a conservação, do que para o reacionarismo, que também antecede as barbáries dos ditadores, a exemplo do Idi Amin.

Aliás, o que fomenta, instiga, potencializa a minha calma com relação à inércia da esquerda, é a pachorra letárgica de todos os pseudomilitantes guevaristas revoltados pintores de privadas que conheço...

Fico por aqui, e nem escrevo sobre o (moto) Serra, porque ele já é um mal em si...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Canção

Este vento frio canta uma canção que o mundo ignora...
Eu não.
Mas qual é mesmo o tema da canção?



terça-feira, 29 de junho de 2010

Antônio Conselheiro

“Considerando em torno, o falso apóstolo, que o próprio excesso de subjetivismo predispusera à revolta contra a ordem natural, como observou a fórmula do próprio delírio. Não era um incompreendido. A multidão aclamava-o representante natural das suas aspirações mais altas. Não foi, por isto, além. Não deslizou para a demência. No gravitar contínuo para o mínimo de uma curva, para o completo obscurecimento da razão, o meio reagindo por sua vez amparou-o, corrigindo-o, fazendo estabelecer encadeamento nunca destruído nas mais exageradas concepções, certa ordem no próprio desvario, coerência indestrutível em todos os atos e disciplina rara em todas as paixões, de sorte que ao atravessar, largos anos, nas práticas ascéticas, o sertão alvorotado, tinha na atitude, na palavra e no gesto, a tranqüilidade, a altitude e a resignação soberana de um apóstolo antigo.”

Era o profeta, o emissário das alturas, transfigurado por ilapso estupendo, mas adstrito a todas as contingências humanas, passível do sofrimento e da morte, e tendo uma função exclusiva: apontar aos pecadores o caminho da salvação. Satisfez-se sempre com este papel de delegado dos céus. Não foi além. Era um servo jungido à tarefa dura; e lá se foi, caminho dos sertões bravios, largo tempo, arrastando a carcaça claudicante, arrebatado por aquela idéia fixa, mas de algum modo lúcido em todos os atos, impressionando pela firmeza nunca abalada e seguindo para um objetivo fixo com finalidade irresistível.” (Euclides, Os Sertões)

Eis Antônio Conselheiro!!!

Duvido que a literatura brasileira possa produzir outro personagem tão idiossincrático quanto o Conselheiro. Obviamente, não posso deixar de lembrar de Rubião, Quincas Borba, Riobaldo, Diadorim, Fabiano,Verter, Quixote e inda outros tantos que, por injustiça, deixo de fora desta lista.Entretanto,asseguro que hoje nenhum desses personagens me interessa mais que o Conselheiro...

Posso vê-lo pregando, andando pelos corredores das estações de trem, esfarrapado, barba longa, amarelada, observando,atônito, a dança e o assovio dos anjos nos trilhos dos trens.

Imagino-o parado diante da C&A, surpreso com as esmolas, que se recusa a receber, mas que avultam, compondo um cenário que ele consideraria bizarro.

O olhar penetrante de nosso profeta tropical sobre as saias curtas das pecadoras apressadas na rua da praia.

Aquele gesticular frenético e ensurdecedor do pobre sobrevivente do pós-crise-mundial querendo que ele CORTAAA CABELOOOO! CORRRRRRRRTAAA CABEEELLLO!

E Conselheiro recusando, altivo.

De repente, um avião corta os céus rumo ao salgado filho, aquele estrondo, ondas sonoras refletidas no asfalto e nas janelas-de-amaro.

Eis que um cone cai-lhe sobre a cabeça, servindo como um chapéu multicolorido: um mistério da fé.

O jovem multi-ligado, multicultural, de cabelos tingidos e arrepiados vê nesta figura uma alusão bárbara ao guitarrista irônico do extinto Guns n Roses...e corre a comprar pipocas para comer com coca-cola ao lado de sua Barbie.

Conselheiro não exita em auxiliar os motoristas a estacionarem, e ouve com dogmatismo a frase: Bem cuidado.

Um supetão lança nosso profeta ao solo: - Este ponto é meu! Meu chapa! Meu! Vai rodando...

É coisa do diabo, do coisa ruim, do caxinguelê, do belzebu, do cramuião.

Fica no chão, ao lado da flanelinha, a coroa de espinhos cor de laranja de Conselheiro.

Asceta, no limite da fome e do frio, entra no Mc Donalds.

E é convidado a se retirar por um afro-judeo asiático de 1,80m e 140 kg com uma suástica tatuada no antebraço.

Não entende porque aquela gente se recusa a partilhar o pão.Lá, no sertão...

Ajoelha-se na calçada e decide fazer uma oração:

“Senhor dos desgraçados, dizei-me vós, Oh! Deus! Será mentira? Será verdade? Tanto horror perante os céus!

Conselheiro é recolhido por indicação da vigilância sanitária.

Acorda numa cama, no São Pedro, barba raspada, cabelos raspados, com um tênis Nike velho, uma calça Levis surrada sendo chamado de irmãozinho por um psicótico incendiário.

Antonio Conselheiro revive a antropofagia litorânea: já não é mais o sertão.

E Conselheiro “ esmola pela rua, vestindo a mesma roupa que foi sua”.

                                                                                        * Foto de Carlos Vieira.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Um nó na garganta dos Durões

Eu não sei por que, mas este título me lembra o título daquele álbum do Oasis; Standing on the Shoulder of Giants;considere isto apenas uma nota absurda do autor...

Tenho visto mais filmes do que nunca vi; soube há pouco tempo que Truffaut quem elaborou o seu método de estudo: três livros por semana, três filmes por dia... E, assim, tornou-se o grande cineasta que é; mais uma nota.

Tenho visto todos os filmes que posso; quanto aos livros, os inúmeros polígrafos da faculdade não tem me permitido lê-los, cheirá-los, tocá-los, enfim...No entanto, nada há de metódico[logo na era do método!!!] no fato de eu assistir vários filmes;simplesmente tenho encontrado nos filmes as representações e desfechos que a vida tem me negado: finais felizes em vidas extremamente destruídas ou com grande potencial de risco, como no caso do Big Mick[do filme Sonhar é Possível], ou, ainda, como aquele encontro festivo,natalino e integrador que o verdadeiro natal pressupõe[ Todos estão bem].Retratos da vida que a própria vida tem negado.[contradições,paradoxos e bola pra frente!]

“A vida imita o vídeo”, ouvi na adolescência, na voz do H. Gessinger. Acredito que hoje as pessoas ganhariam muito se fizessem de suas vidas uma mimesis dessas grandes obras cinematográficas, onde os personagens assumem o peso de uma existência real, ao passo que a grande maioria das pessoas, inclusive eu, simplesmente representam um papel circular, monótono e, sobretudo, passivo.

A vida, intensificada pela percepção de um personagem, pode parecer, posteriormente, a um simulacro vazio e monótono insuportável [como parece ter sido o caso de Ledger].Considere isso uma advertência.

Que grande viagem a minha, ou não.

Se na antiguidade o teatro e a representação poderiam ser uma grande solução [catarse] para a fruição das angustias da platéia, hoje, a platéia de peito vazio e oprimido teria grande êxito ao imitar algum personagem celebre. Atente para o fato de que não comungo da ideologia tipo: vestir a mesma roupa das atrizes da novela, nem fazer o mesmo penteado, nem comprar o mesmo carro, isso seria aviltante, e estúpido demais... No entanto, se houver lá algum sentimento nobre, persiga-o.

Porque não os vejo no trem, nem no ônibus, nem na faculdade, muito menos nos bancos ou no trânsito, tão pouco nas ruas, nas calçadas ou nos parques. Desapareceram da vida real.

Por isso, penso que só a arte pode colocar um nó na garganta dos durões.

Só no filme As Invasões Bárbaras [que foi uma recomendação disciplinar] encontram-se vários exemplos notáveis: o filho é aconselhado a tocar o pai e dizer que o ama; os amigos se reúnem em torno do que está doente, cuidam-no; todos se reúnem para conversar, algo inatingível atualmente; Todos sentam à mesa; Todos desejam; todos sofrem, porque é preciso sofrer, sem remédios, sem álcool, sem drogas, sem demência...

Li esses dias, num ensaio, que a literatura é um “reencontro com o simbólico”, concordo. Entretanto, isto me obriga a constatar que o cinema é um mergulho no simbólico.E que os personagens “profundos” são, em si, um exemplo notável de reconstrução, e que podem nos servir como ponte para o nosso renascimento.

Outro dia, num seminário, ouvi que só a partir do clássico se pode engendrar o novo, então, presumo que só a partir da imitação podemos reencontrar os nossos caminhos de autenticidade.

Repito a frase: só a arte pode colocar um nó na garganta dos durões.

Por isso, sigo assistindo a todos os filmes que posso, ainda que nem tão antenado como Truffaut ou tão radical como Ledger.Entretanto, sigo feliz por ainda ter um nó na garganta e de poder andar Ao lado Del Camino,simplesmente...



domingo, 20 de junho de 2010

In+Decisão

Fiquei pensando durante algum tempo sobre do que deveria tratar o meu primeiro texto para postar aqui; e não cheguei a conclusão alguma...


Primeiro, porque eu sei que tudo na vida tem um discurso declarado e um implícito; e não é desvario psicanalítico [quem me dera] é só uma constatação, e, de posse desta consciência, sou obrigado a considerar que: primeiro, se eu escrever algo demasiadamente banal, como uma serie de comentários sobre a copa, corro o risco de uma “auto-censura” feroz, pois há sempre outros assuntos mais interessantes para discutir...jogo eu gosto é de assistir,solamente.Segundo, se eu escrever algo demasiadamente pesado, como um texto argumentativo sobre Hegel, Heidegger ou Proust[talvez até nem seja capaz!] posso, novamente, receber um puxão de orelha do meu amigo íntimo aqui, afirmando que sou mais um desses pedantes pretensos intelectuais leitores de resenhas da coletânea dos Grandes Pensadores.terceiro, se eu escrever sobre mulheres gostosas corro o risco de parecer com um escritorzinho[ou uma serie de escritorezinhos de uma rede de rádio e T. V. locais] que ainda não abandonou a puberdade textual, misturando, numa simbiose que julga celebre, um pouco de historia, um pouco de curiosidades, um pouco de música, e tantos poucos mais de mulheres gostosas de saias , e fatais, e ardentes, e tortas, e etc.Quarto, se eu escrever sobre fundacionismo, posso ser tachado de homem bomba ou rebelde sem causa[próprio dos racionalistas].Quinto, se eu escrever sobre poesia e música, serei mais um diletante[sobretudo se escrever em versos livres...] mal empregado e tentando, com esforço vil, salvar a minha alma do inferno capitalista.Sexto, Se eu escrever sobre literatura, principalmente os romances, então eu não passo de mais um desgraçado sem imaginação[considere retardado, se escrever sobre os cânones!].Sétimo, se eu escrever sobre filosofia, então também sou pedante.oitavo, se escrever sobre artes plásticas, sou um desocupado, almofadinha e prepotente.Nono, se sobre musica erudita, tenho grande chance de ser surdo.Décimo, para finalizar, se escrever sobre tudo isso em todos os textos, acrescendo um pouco de caipirismo bucólico e heroísmo quixotesco, então sou eu mesmo...sem charme, sem pretensões e sem filtros nas veias,tampouco nos olhos.