sexta-feira, 26 de agosto de 2011

"Na pista pra negócio"

Há um dia nas nossas vidas (eu espero que isso aconteça com todos, sinceramente) que temos uma “iluminação”(mistura da acepção judaico-cristã, com a palavra lucidez, inda com a palavra educação- ex- duco- e umas horas a mais de sono).Um dia simples, onde as coisas discorriam mais ou menos da mesma forma frágil e estruturada de sempre -(som de um estalo de dedos)-, e algo acontece e muda as nossas vidas, definitivamente.
Ontem, durante o ocaso do sol, eu tive a minha iluminação.Um flash que iluminou e lançou feixes de luz sobre todas as coisas antes vistas, sobre todas as coisas anteriormente pensadas, um insight cujo reflexo se estendeu as amarras teóricas que esse pequeno fenômeno gerou em milésimos de segundo, assentando tudo que eu já vi, li e vivi ate então, num berço de tranqüilidade e serena alegria.
Andando eu me dei conta: agora, sou um homem livre.
Sartre afirmava que todos os homens são inadvertidamente livres, e que não podemos nos abster da responsabilidade dos nossos atos; mas, para mim, assim como parece ser para o Corpo Estranho, essa não é uma questão tão simples.Primeiro, porque esse recorte temporal chamado pós-modernidade, mãe de todas as horizontalidades( no sentido de que tínhamos relações tipicamente verticais, cujo figura central era paterna e toda a significação girava em torno de uma hierarquia fálica) acaba nos confundindo com sua infinidade de possibilidades, de relativismo, de devires, de liberdade democrática, sexual, intelectual, pessoal, etc.Segundo, porque todos esses séculos de disciplina e controle acabam produzindo, a quem de qualquer ressalva, um certo apego e medo de sair-desse-lugar-de-credito-e-status-de-identificacao-global-e-lugar-comum.Essas duas causas são mais do que suficientes para embalar qualquer duvida, independentemente de serem vistas, ou analisadas, juntas ou separadamente.
Logo, havia uma agonia pungente nesse meu movimento kamikase-riponga-filosofico-reeditante que não estava me permitindo “caminar” em paz até então.
Mas ontem, saudoso leitor (a), essa angustia morreu.
E, bendito sejam os deuses do acaso ( que afirmam que felicidade não é coisa que se conquiste), durante alguns passos lentos na universidade, sozinho, com uma mochila cheia de lembranças e um pouco de água de bebedor dentro de uma garrafa vazia de coca-cola, eu pude sentir.Fui atravessado por essa conclusão popularíssima e feliz: Eu to na pista pra negócio!!!
Depois de algumas conversas informais com gente bem formada, vídeos de psicanálise lacaniana, um palestrante Português, um pouco de refrigerante sem gás e uma discussão metacognitiva embolada sobre comportamentalismo, marxismo vulgar, platonismo torto e estruturalismo capenga (ou irracionalismo, que dá a tudo isso uma imagem ainda mais delirante), eu descobri que, no mínimo, ganhei todas as possibilidades que não tinha se estivesse ainda naquele berço infame e alienante que estava.
Eu posso fazer o que eu quiser.
Até confesso que é um pouco sufocante lidar com todo esse potencial. Afinal, diante de três décadas de linearidade absoluta dobrar uma esquina é uma aventura, e toda aventura pressupõe novidade, novos rumos, novas estradas, novos caminhos, novas experiências, novas “novas”.
Por outro lado, haverá coisa mais fascinante do que não ter certeza do que se estará fazendo amanha? Trabalhando com quem? Com que especificamente? Que tipos de situações, enfrentamentos aparecerão? Quais serão os medos, receios?(afinal, eles são parte indissociável de toda e qualquer vivencia humana).
Certamente, aparecera ai algum cético um tanto deprimido e controlador que cogitará o “óbvio ululante” de que “isso tudo é muito bonito no discurso, mas dificilmente aplicável a vida real”. Deverá, ainda, dizer que é preciso sobreviver, ganhar a vida, sustentar-se; e que toda essa errância só poderia resultar em miséria e desolação...
Entretanto, haverá maior desolação, maior miséria, do que a de um individuo que ao longo de toda sua existência não foi capaz de apostar em si mesmo uma única vez? Não foi capaz de impor-se a ladainha racionalista e pobre de que é preciso seguir os passos daqueles que tem sucesso, êxito em suas vidas, ainda que seja um êxito estritamente profissional...Não foi capaz, uma só vez, de chorar e não sentir vergonha disso.Não foi capaz de implorar o amor de alguém, não foi capaz de um porre, de um “erre” a mais, de um tropeço público nos tapetes da etiqueta; não foi capaz de dizer uma só vez “quem é mesmo o dono de quem”.
Não foi capaz de concluir que dizer não a despedida significa fulminar com a chance de um reencontro.
É incrível como algumas brechas no presente podem abrir novas portas para o futuro.Como a falta de uma residência fixa e imutável põe os nossos pés no mundo.Como algumas conversas idiotas de boteco, tomando cerveja as três da tarde de uma segunda-feira podem nos levar a colocar as mãos na coroa que nos fará senhores dos nossos destinos.
Felicidade não é coisa que se mereça. Repito.
O Acaso é um amigo intimo da capacidade (e necessidade) criativa do homem, seja lá que homem for...
É por isso, somente por isso, que eu tô na pista pra negócio, porque "o caminho da liberdade é a própria liberdade".





2 comentários:

LINK COMUNICAÇÃO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
O Aprendiz disse...

caro Edson! certamente que está! quando não se faz nada, tudo se pode fazer...
Sherlock Holmes, ao se defrontar com um caso muito complexo, colocava-se num estado de desolação total, não comia, não saía, nada fazia... e como bem sabemos, ele nunca decepcionou, em dois ou três dias (o mesmo estalar de dedos), o insight!
estou curioso para ler o seu próximo capítulo....

abraço!