terça-feira, 27 de julho de 2010

Um (quase) Analfabeto Político

Brecht tem um lindo poema em prosa que descreve o analfabeto político, do qual ressalto o orgulho que ele imputa a esse tipo de analfabeto, que bate no peito e diz que: Não participo dessa farsa, não perco meu tempo com essa corja, não assisto programas eleitorais, não me interesso pelos programas dos candidatos, em suma, não voto, aliás, voto nulo.

É a partir dessa leitura que eu afirmo que fui quase analfabeto político; e não me orgulho disso.

Hoje, observo a política com um pouco mais de atenção; (talvez somente com a atenção obtida através de um M.M.C. de atenção necessário para abandonar a posição de “A.P.”) e um facto tem me chamado a atenção: A preocupação dos nossos intelectuais conservadores, e mesmo os de esquerda!, para esse “Lulismo”, que pode durar quase 25 anos,posto que o governo da Miss Dilma deve ser uma extensão do governo do nosso admirável populista.

Todo este tempo de mandato, aliado a uma popularidade, tida até como excessiva, podem configurar o ambiente ideal para a instauração de uma ditadura, como a de Hitler, de Mao, de Stalin, de Fidel ou como a que Chaves vem engendrando.

Pois, ainda que de uma forma um pouco disforme, foi assim que esses sanguinários chegaram ao poder absoluto de uma ditadura: altas doses de populismo, indução do povo, reforma das leis, diminuição de dois dos três poderes fundamentais e, por fim, alargamento do tempo de mandato.

Parece que o ilustre metalúrgico já dispõe de um arsenal e tanto...

E o fato dele (o Lula) ter se negado a aderir à sugestão de um covil (de que propusesse uma reforma que aprovasse o terceiro mandato) não acalentou o medo dos analistas políticos, pois a Dilma seria, em si mesma, a efetuação do terceiro mandato, que iria desembocar, inevitavelmente, na doçura e continuum de petistas, ameaçando, incisivamente, a sagrada democracia.

Lendo uma entrevista que o Calligaris concedeu ao programa Roda Viva, eu encontrei uma pérola, aliás, duas: na primeira, ele afirma que “a única diferença entre ele e os rebeldes é que ele não joga tijolos”, e a segunda, e a que mais me interessa, é a sua postura acertada com relação a Democracia. Segundo ele, democracia deveria ser um tipo de governo onde a vontade e decisão de todos prevaleceria, ou seja, as minhas decisões deveriam ser ouvidas, e, se fossem participes da opinião geral, ela deveria ser executada de imediato, e, se pensarmos sob esse enfoque com relação à segurança e saúde publica, verificamos que ele tem razão ao afirmar que não vivemos numa democracia legitima, ou numa democracia profunda.

Deste modo, o meu medo se restringe unicamente a perda total da liberdade, dado que a demo-cracia da qual sou contemporâneo nada tem a ver com o ideal utópico de democracia proposto por Calligaris (junto a todos os rebeldes do mundo, com ou sem tijolos). Logo, penso que não seria um equivoco trocar a minha posição de “quase ignorante político” por “militante político aposentado, ou deprimido, ou qualquer coisa que valha...”, posto que também não jogo tijolos, nem colo cartazes pela cidade, nem quebro placas, nem incendeio veículos públicos, nem encho as rodovias de gravetos, coisa que na adolescência (época predileta de análise do psicanalista) eu até cogitava,todavia, devido ao cogito racionalista...

Com base na constatação de que esse “sonho” de democracia já faleceu, só me resta abraçar o populismo, o que pode parecer uma contradição dada a analise de risco que aqui descrevo, no entanto, só o faço porque a nossa esquerda é mole demais para engendrar uma ditadura, seja esquerda, neo-esquerda(ao que faço trocadilho com nuloesquerda), ela está mais para a conservação, do que para o reacionarismo, que também antecede as barbáries dos ditadores, a exemplo do Idi Amin.

Aliás, o que fomenta, instiga, potencializa a minha calma com relação à inércia da esquerda, é a pachorra letárgica de todos os pseudomilitantes guevaristas revoltados pintores de privadas que conheço...

Fico por aqui, e nem escrevo sobre o (moto) Serra, porque ele já é um mal em si...

8 comentários:

Anônimo disse...

Edson,
Da arte para a analise politica...mazzz aaaaahhh!!!
Abracao.
Fabio.

Anônimo disse...

"o meu medo se restringe unicamente a perda total da liberdade"

Ah não! Mais um liberal confuso na blogosfera
É dose!

Edson Leal disse...

Anônimo,
Parece um medo legítimo para um descendente de escravos.
Quanto a confusão,ela é relativa,assim como sua identidade.

Anônimo disse...

Medo e confusão são características aceitáveis...
o problema é esse seu discurso de direita.
Para alguém tão crítico, esperava que concluísse o texto dizendo que a Democracia, e não o Serra, é um mal em si, pois é essa que nos dá Liberdade para lutar, enriquecer, manipular, explorar, e por aí vai.
Espero que você chegue lá, Sr. Liberal

Edson Leal disse...

Vamos esclarecer as coisas, Sr. Anônimo.
1-Discurso de direita? Onde? Se no texto deixo bem claro que sou tão rebelde quanto o Calligaris ou como todos aqueles que tem um discurso marxista e libertário na ponta da língua, mas que nada fazem.
Não pinto muros, nem colo cartazes, nem faço protestos,etc...,ou seja, sou um rebelde aposentado, como parece ser o caso da “nossa esquerda”(e esse sintagma(que esta no texto) deixa implícito que: a esquerda também é minha,logo,não posso ser de direita).
2-Desse modo, parece obvio que eu critico a esquerda por querê-la mais efetiva, atuante, e não academicamente revolucionaria, como tem sido, tendo papel de relevância somente na imaginação incendiaria de pseudorevolucionistas.
3-“...esperava que concluísse o texto dizendo que a Democracia, e não o Serra, é um mal em si”.Você, com todo o respeito, deve ter lido o texto com desatenção, pois eu afirmo, com todas as letras, que a democracia, tal qual a idealizamos, já faleceu, ou seja, a única coisa que se pode perder dessa pseudodemocracia é a liberdade, e é por ela que eu me manifesto, não o contrario.
Acredito, também, que nenhum regime é “um mal em si”, seja democracia, monarquia,comunismo,socialismo...pois eles não se efetivam sozinhos, são orquestrados pelo homem.
4- Também espero “chegar lá”,Sr. Anônimo, afinal, este é o propósito de um itinerante.
Abraço

Anônimo disse...

1 "Nossa esquerda". Que esquerda?
2 Liberdade - bandeira de direita, orientação liberal. Não é?! Em contraponto à Igualdade - bandeira da esquerda... Acho que é isso.
3 "Democracia, tal qual idealizamos" - a Democracia foi idealizada pela burguesia para a perpetuação do capitalismo. Estratégia liberal!!!
Ou seja, a esquerda (esquerda de verdade) não idealiza nem defende a democracia.
4 E só uma observação final e irrelevante deste anônimo miserável: você é tão condicionado, Sr. Liberal, que citou quase todos os ditadores de esquerda e se esqueceu de Stroessner, Pinochet, Videla e Mussolini. Direita!!
Por que será?

Edson Leal disse...

Só cito ditadores de esquerda porque a minha analise privilegia a esquerda! Ao contrario do que você insiste em afirmar, o que eu faço, ao analisar a esquerda e seus desdobramentos no poder, é usar a Racionalidade, que consiste, neste caso, a: Mesmo sendo participe dos ideais de esquerda, sou capaz de me desvencilhar subjetivamente (abstração) desta doutrina para, assim, criticá-la, conhecê-la melhor. E isto, evidentemente, não afina a minha postura com os ideais de Direita, nem faz dela o meu legado.
Quanto a democracia ser uma idealização da Burguesia para “perpetuar o capitalismo”, penso que isso é um apelo Irracionalista (pretensamente não condicionado, o que chega ser inocência!) que visa relativizar todas as coisas deste mundo sob o enfoque da onipotência burguesa.
Nossa discussão política acaba aqui, pois há outros temas para serem discutidos.
Ressalto que todas as suas criticas sempre serão bem-vindas, e que isso, sim, constitui um exemplo real de liberdade e igualdade.
Abraço, Sr. Nem Tão Anônimo.

Anônimo disse...

Mr Leal, é em tom de grande cordialidade e respeito por vossa senhoria que trago para discussão algumas reflexões que tenho tido ao ler algumas ideias que traz ao público em vossos textos. (COOPER, 2010)
No texto Um Quase Analfabeto Político (Mr. LEAL, 2010), vossa senhoria traz uma discussão a respeito da posição de uma esquerda meio Teletubbies .
Tenho pensado a partir de autores como “BRASIL, o meu cachorro de estimação”, ( Brasil porque é um vira lata inteligente e de raça, que inclusive o senhor teve a oportunidade de conhecê-lo), que o mundo tem sofrido algumas modificações. (BRASIL, 2009)
A coca cola já tomou conta da china (GESSINGER, 1987), essa frase não se trata de um usucapião do sócius por essa grande instituição, bicho papão ou mula sem cabeça para alguns, que atualmente chamamos de capitalismo.
Aqui trato a discussão entre esquerda-direita, (com todo respeito que vossa senhoria merece e o seu interlocutor o “anônimo”), como uma mera discussão estética a respeito de uma problemática infinitamente maior, ou seja, Arroz e feijão ou feijão e arroz, como os senhores preferirem.(BRASIL, 2010)

Não podemos mais dividir o mundo entre esquerda e direita, Maragato ou Chimango, Xuxa ou Angélica. É fundamental nesse momento pensar as coisas como integradas, interligadas, sem fronteiras. O que seria da pobreza sem a riqueza ou vice-versa, da beleza sem a feiúra, há aldeia no global e o global na aldeia. E por favor, não encarem isso como uma visão anarquista ou socialista ou comunista de um sócius pós-moderno, ou moderno como alguns preferem chamar a contemporaneidade. Falo de uma sociedade que passou por guerras e muitas injustiças, que ainda são fomentadas, por separar e dividir tanto as coisas e as pessoas, negar acesso.(COOPER, 2010)

Sobre o governo do senhor Lula, penso que é uma grande injustiça chamá-lo de populista. Esse adjetivo talvez deva-se a sua personalidade mais para fora do que para dentro, mais prática do que intelectualóide, distante da Academia, único local de produção de conhecimento para alguns.
Um governo que proporcionou acesso, merece no mínimo
uma comparação com governos anteriores para mensurá-lo de uma forma coerente.
Vossa senhoria é prova disso, menino pobre, vindo da Bahia, cortador de cana, contador de estórias, ainda arredio a intelectualidade, chega na cidade grande e depois de instruído e catequizado, consegue acesso ao berço do conhecimento do homem branco, chega aos bancos da universidade.
Talvez alguns achem pouco o que mudou, eu prefiro pensar que é um começo.

Cordialmente,

Corpo Estranho e Brasil (meu oráculo do cotidiano).