terça-feira, 22 de junho de 2010

Um nó na garganta dos Durões

Eu não sei por que, mas este título me lembra o título daquele álbum do Oasis; Standing on the Shoulder of Giants;considere isto apenas uma nota absurda do autor...

Tenho visto mais filmes do que nunca vi; soube há pouco tempo que Truffaut quem elaborou o seu método de estudo: três livros por semana, três filmes por dia... E, assim, tornou-se o grande cineasta que é; mais uma nota.

Tenho visto todos os filmes que posso; quanto aos livros, os inúmeros polígrafos da faculdade não tem me permitido lê-los, cheirá-los, tocá-los, enfim...No entanto, nada há de metódico[logo na era do método!!!] no fato de eu assistir vários filmes;simplesmente tenho encontrado nos filmes as representações e desfechos que a vida tem me negado: finais felizes em vidas extremamente destruídas ou com grande potencial de risco, como no caso do Big Mick[do filme Sonhar é Possível], ou, ainda, como aquele encontro festivo,natalino e integrador que o verdadeiro natal pressupõe[ Todos estão bem].Retratos da vida que a própria vida tem negado.[contradições,paradoxos e bola pra frente!]

“A vida imita o vídeo”, ouvi na adolescência, na voz do H. Gessinger. Acredito que hoje as pessoas ganhariam muito se fizessem de suas vidas uma mimesis dessas grandes obras cinematográficas, onde os personagens assumem o peso de uma existência real, ao passo que a grande maioria das pessoas, inclusive eu, simplesmente representam um papel circular, monótono e, sobretudo, passivo.

A vida, intensificada pela percepção de um personagem, pode parecer, posteriormente, a um simulacro vazio e monótono insuportável [como parece ter sido o caso de Ledger].Considere isso uma advertência.

Que grande viagem a minha, ou não.

Se na antiguidade o teatro e a representação poderiam ser uma grande solução [catarse] para a fruição das angustias da platéia, hoje, a platéia de peito vazio e oprimido teria grande êxito ao imitar algum personagem celebre. Atente para o fato de que não comungo da ideologia tipo: vestir a mesma roupa das atrizes da novela, nem fazer o mesmo penteado, nem comprar o mesmo carro, isso seria aviltante, e estúpido demais... No entanto, se houver lá algum sentimento nobre, persiga-o.

Porque não os vejo no trem, nem no ônibus, nem na faculdade, muito menos nos bancos ou no trânsito, tão pouco nas ruas, nas calçadas ou nos parques. Desapareceram da vida real.

Por isso, penso que só a arte pode colocar um nó na garganta dos durões.

Só no filme As Invasões Bárbaras [que foi uma recomendação disciplinar] encontram-se vários exemplos notáveis: o filho é aconselhado a tocar o pai e dizer que o ama; os amigos se reúnem em torno do que está doente, cuidam-no; todos se reúnem para conversar, algo inatingível atualmente; Todos sentam à mesa; Todos desejam; todos sofrem, porque é preciso sofrer, sem remédios, sem álcool, sem drogas, sem demência...

Li esses dias, num ensaio, que a literatura é um “reencontro com o simbólico”, concordo. Entretanto, isto me obriga a constatar que o cinema é um mergulho no simbólico.E que os personagens “profundos” são, em si, um exemplo notável de reconstrução, e que podem nos servir como ponte para o nosso renascimento.

Outro dia, num seminário, ouvi que só a partir do clássico se pode engendrar o novo, então, presumo que só a partir da imitação podemos reencontrar os nossos caminhos de autenticidade.

Repito a frase: só a arte pode colocar um nó na garganta dos durões.

Por isso, sigo assistindo a todos os filmes que posso, ainda que nem tão antenado como Truffaut ou tão radical como Ledger.Entretanto, sigo feliz por ainda ter um nó na garganta e de poder andar Ao lado Del Camino,simplesmente...



4 comentários:

Bruna disse...

Edson meu caro,

Esse teu texto, cheio de outros textos, me sensibilizou. Queria conseguir um pouco imitar os personagens de alguns filmes em especial. O que tu escolheste para ilustrar o post me emocionou muito pela senibilidade e delicadeza e pasmei quando soube que se tratava de uma história real. Pois bem, podemos sim viver histórias incríveis, é só reconhecer o incrível do dia-a-dia e deixá-lo de vez em quando entrar em nossa porta como uma rajada de vento. Basta convidá-lo a sentar, oferecer um café e lhe dar a mão para ver onde ele pode nos levar.

Um bjo colega!!

Anônimo disse...

olá rapaz
estive por aqui.
reflexoes, mergulhos, voos panoramicos, interrogaçoes e outros.
eh assim que a lealdade se traduz em textos que realmente traduzem aquele menino viajado do interior, que hoje de frente com tudo que construiu, se pergunta que menino, homem é esse?
mas é assim mesmo, tu está aí nos teus textos amigo, consigo enxergar estomago, rins, celulas, carne e osso em verbo e frase

Anônimo disse...

Grande Edson!
Após ler teus escritos, eu não quis pensar em nada, senti suas idéias e isso foi muito bom!

Abração do amigo Wago!!!

Edson Leal disse...

Amigos,
Obrigado pela companhia,pois ela é fundamental nesses dias frios...
Vocês são bem-vindos!!!
Grande abraço.